Índice
Em sua estreia como diretor, Jesse Armstrong — criador da premiada série Succession — conduz o espectador por um mundo dominado por arrogância, delírio e autodestruição. Mountainhead, lançado pela HBO, é uma sátira feroz ao poder tecnológico contemporâneo. Se antes Armstrong criticava magnatas da mídia tradicional, agora o foco são os bilionários do Vale do Silício, que em nome da “inovação” colocam o planeta em risco.
Quem são os bilionários retratados no filme?
A trama gira em torno de quatro gigantes da tecnologia com patrimônio combinado de quase US$ 500 bilhões. Eles se reúnem em uma mansão chamada “Mountainhead”, localizada nas montanhas de Utah, para um retiro aparentemente inofensivo entre velhos amigos. Mas o que começa como fuga vira farsa: uma nova ferramenta de deepfake, lançada pela rede social fictícia Traam — criada por Venis (Cory Michael Smith) — desencadeia caos global. Vídeos falsos provocam conflitos religiosos, crises diplomáticas e revoltas. E os protagonistas? Observam tudo com uma indiferença gelada.
Venis, longe de se preocupar com as consequências, vê a desordem como um “catalisador da inovação”. Seu entusiasmo diante da violência é um espelho direto da lógica atual de muitos líderes do setor: produtos lançados sem freios éticos, onde vidas humanas viram métricas. Como ironiza um personagem: “Vocês espalham mentiras e perguntam o que o presidente pode ensinar pra gente?”
Randall (Steve Carell) é o “mentor” do grupo, que acredita que a tecnologia curará seu câncer — mesmo contra o parecer médico. Seu culto cego à inovação contrasta com sua insensibilidade humana.
Hugo (Jason Schwartzman), dono da mansão e “apenas” bilionário menor, propõe aproveitar o caos para tomar o controle de países sul-americanos, chegando a sugerir expandir o plano aos Estados Unidos.
Já Jeff (Ramy Youssef), o único com senso ético, desenvolve uma IA de verificação de fatos — mas acaba reduzido a mais um ativo à venda.
O que a mansão “Mountainhead” realmente representa?
O cenário principal é simbólico: uma mansão brutalista isolada, inspirada na estética objetivista de Ayn Rand. A própria escolha do nome — Mountainhead — dialoga com a obra The Fountainhead, questionando o culto ao “gênio isolado”. Nas cenas onde os quatro atravessam a neve em motos, o uso de planos aéreos transforma esses titãs em meros pontos minúsculos, reforçando a ideia de insignificância diante da natureza — e da realidade.
A direção aposta em recursos visuais sutis e poderosos: notícias de revoltas globais refletidas no rosto dos personagens através das telas, criando uma sensação de confusão entre real e virtual — como na vida conectada de hoje. Mountainhead mostra que a distorção da verdade pode ser estética, funcional e altamente lucrativa.
Os personagens são inspirados em figuras reais?
Venis é uma caricatura direta de Elon Musk: sarcástico, sedutor e implacável. Sua decisão de lançar uma função perigosa globalmente, apenas porque isso favorece o desempenho das ações, reflete o cinismo empresarial atual. Smith entrega uma performance que mistura autoritarismo e infantilidade. Já Carell interpreta Randall com uma frieza disfarçada de afeto — o capitalista que fala de esperança olhando para um mapa enquanto calcula mortes como custo aceitável.
Um dos trechos mais impactantes é quando Hugo profetiza: “em cinco anos entraremos na era pós-humana”. A fala, absurda à primeira vista, remete a promessas reais de CEOs que falam em “colonizar Marte em dez anos”. A sátira aqui desmonta o mito do “visionário” que não entende de código, mas manipula mercados. A frase-chave do roteiro é reveladora: “Eles nem sabem programar.”
O filme vai além da crítica a indivíduos. Ao mostrar bilionários trocando “bonés de conquista” ou debatendo a compra de nações em frente à lareira, Armstrong expõe um sistema onde moral é substituída por “disrupção criativa”, vidas viram KPI e a democracia é reduzida a ativo geopolítico. O colapso final — uma explosão de violência entre antigos amigos — simboliza o preço da arrogância institucionalizada.
Vale a pena assistir Mountainhead?
O filme divide opiniões, mas sua força está na precisão desconfortável. Não é necessário inventar absurdos — o mundo real já fornece matéria-prima. O desfecho gelado, com os protagonistas cercados pela própria ruína, funciona como um alerta brutal sobre os limites da tecnocracia.
Mountainhead é um espelho distorcido — porém honesto — dos tempos em que vivemos. Ele nos lembra: quando a bola de neve do capital rola montanha abaixo, ninguém escapa ileso. Nem os bilionários no topo, nem quem vive na base.
Como assistir?
Para quem prefere acompanhar narrativas intensas no próprio ritmo, o aplicativo YouCine permite acessar uma ampla variedade de filmes e séries em diferentes dispositivos. Compatível com celulares, computadores e smart TVs, a plataforma oferece uma alternativa direta e funcional para quem opta por assistir de casa — longe do ruído, mas perto do caos na tela.
Comentários